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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Bastião Mola Faca

Existem pessoas que, num determinado tempo, fazem parte da cena urbana de uma cidade. São pessoas que carregam algum tipo de debilidade mental e, por isso mesmo, tem um comportamento que destoa do "normal". E em virtude de seu comportamento passam a fazer parte do folclore do lugar. Catalão, pelas décadas de 1960 e 1970 tinha um habitante popularmente conhecido por Bastião Mola Faca que se alguém o chamasse assim ele se enfurecia, rasgava as próprias vestes e atirava pedras. Mas, fora isso era pessoa calma, sabia o nome de quase todo mundo e era fanático por bandas de música. Abaixo, foto de Bastião.


Sobre este personagem que vagava pelas ruas de Catalão, às vezes enfezado e mal trapilho e resmungado em altos brados, outras vezes de roupa limpa e calmo, escreveu Dr.Jamil Sebba:

Catalão, 10 de novembro de 1965

Bom dia pra você, Bastião Mola Faca,
Sabemos de sobejo que você não vai nos ouvir muito menos entender a mensagem que enviamos a todos os Mola-Facas de Catalão através de você. De você que é simples, que se enfeza por pouca coisa e que, quando está de bom humor, até conversa com a gente, dá o nome de todo mundo, sabe o nome de todo mundo e é fanático por bandas de música. Nesse particular, Bastião, estamos de acordo porque não sabemos se é o provincialismo enraizado no subconsciente que nos faz fãs das furiosas e das grandes bandas do Brasil e do mundo, ou se é mesmo pendor de cada um. Acontece que,como você, não entendemos patavina de música, mas, basta um para-tim-bum entrecortado de pistões e trombones e o nosso pelo se arrepia todo.
Você, Bastião Mola-Faca, existe pelo interior do Brasil inteiro e deve existir em Catalão há mais ou menos uns noventa anos - os Virgínios Cambeta, os Virgílios, não deixam fazer descontinuidade de você. Só nos resta saber quem virá depois de você. É possível que já tenha outro em formação e pode ser até seu contemporâneo, mas, no momento, o ignoramos.
O fato é que você deve existir em estado latente esperando as sua própria coroa o seu título de homem enfezado, de homem que faz vibrar a molecada com sua bronca ou as suas pedradas. A Bacia-Virou, quando morreu, já estava em atividade a dupla Virgílio e Elvirinha. Mas, agora, já estou me lembrando, o Boca de Jaú está querendo lhe passar para trás. Ele é mais convincente, freqüenta rodinhas, se apresenta em palco e se julga importante com boné na cabeça, apito na boca, flor no peito e chicote na mão.
Você é nervoso demais, quando o meu compadre Fued Pedro expôs o seu retrato em tamanho quase natural no Bar Antarctica, você quis quebrar o bar. Isso é coisa que se faça? A molecada não pode lhe ver de camisa inteira no corpo que você provoca ruptura dela com as pedradas e com o esfarrapamento da própria camisa. Olha Bastião, você está precisando de um repouso e, conforme for, até de um tratamento em casas especializadas em sonos e tranqüilizantes. Isso se você não melhorar logo, pois está na moda a gente ver narua, muita gente de bem que se parece com você.
Bastião, eu vou lhe ser franco: tem hora que até eu me pareço com você, não rasgo a roupa porque teria que comprar outra e ainda tenho consciência disso. A hora que eu perder essa noção começarei como você a atirar pedras, desgrenhar os cabelos e rasgar as roupas. De médico, poeta e louco, todos nós temos um pouco. Mas essa parcela de louco já está passando um pouco.
Tem hora que eu chego a pensar que você é insubstituível, embora não acredito nisso e seja um apologista do “ninguém é insubstituível. Você sabe, Bastião Mola Faca, que estamos achando bom conversar com você, tão bom que é capaz de amanhã tornarmos a cumprimentá-lo, sendo assim, em dizendo-lhe até amanhã, nós lhe desejamos um bom dia. Um bom dia para você.

4 comentários:

  1. Talvez a figura que mais mereça saudades entre os "doidinhos" de Catalão. Tinha uma memória bárbara! Quando me via na rua, não importava o espaço de tempo, recordava de mim dizendo toda minha árvore genealógica:" fi da Jovi, sobrin do Mané, neto da Benvinda..."

    No espetáculo "Ópera Bufa", do Marcus Fayad, realizado entre 94-96, bem depois da morte de Bastião, o ator Jalles (que deve ter hoje uma loja em frente ao Mara Turismo Hotel) incorporou Bastião Mola Faca, passando em silêncio pela plateia e nos emocionando a todos.

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  2. ola silvinho,
    fiquei muito emocionado em relembrar destes mitos catalanos através das fotos por vc postadas no blog.
    conheci muito todos eles, bastiao mola faca esteve centenas de vezes em nosso bar em frente o hosp. sao nicolau. Patota, boca-de-Jaú,Joaquinzinho, Zalada e tantos outros. Que saudade amigo.
    Um primo meu aqui de Catalao que exerce a profissão de psicologo na capital goiana fez uma observaçao muito importante sobre mola faca. Disse que ele possuia algo que pouquíssimas pessoas conseguem entender. Ele (mola faca) era conhecido nao só pela sua (brabeza) e nervosismo, mas tambem pela capacidade de conhecer as famílias das pessoas e justamente aí que tá o mistério que precisava ser estudado. Segundo meu primo Joao Mané o Mola Faca tinha um poder excepcional de ler as mentes das pessoas. Um feito que raramente o ser humano comum conseguiria, só alguns excepcionais, e ele foi um que passou por esta terra e nao soubemos explorar esse fato. Uma pena, mas fica a saudade deste homem que merecia uma estátua em nossa cidade. um abraço.

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  3. Fiquei muito emocionada ao pesquizar sobre o Mola Faca pra apresentar ao meu esposo e encontrar essa linda matéria sobre ele.
    Minha família é descendente dele e é muito bom lembrar saudosamente desse a quem pude conviver poucos, mas muito lembrados anos de minha vida.
    Gratidão por compartilhar a história desse catalano tão amado e lembrado por todos!
    Um abraço!

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  4. João de Aguiar Filho30 de março de 2013 às 02:00

    fico feliz de lembrar da minha infancia em catalao e lembrar dessas figura marcantes da epoca : joao de aguiar filho- unai mg

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