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sábado, 26 de dezembro de 2020
terça-feira, 8 de dezembro de 2020
UM MUSEU A CÉU ABERTO
Luís Estevam
(Da Academia Catalana de Letras)
Poucos catalanos sabem que, passear pela Praça Getúlio Vargas é caminhar sobre um chão sagrado, repleto de memórias do velho Catalão. Trata-se de um santuário histórico que remete a épocas passadas, com detalhes que não escapam ao atento observador.
A Praça Getúlio Vargas carrega um tonel de lembranças, tanto na dimensão política, como na esfera social do município.
Na dimensão política, a praça representa as mudanças no poder institucional que ocorreram ao longo do tempo. Por isso, experimentou três denominações diferentes. Primeiro foi batizada de Praça da República em homenagem à vitória do partido republicano, liderado pelo senador Antonio Paranhos, em 1889. O parlamentar morava na esquina de baixo da praça onde possuía um grande sobrado residencial e comercial.
Tudo indica que o líder político sentiu-se bem à vontade em inaugurar a praça com o nome do regime pelo qual foi eleito, sendo o representante de Goiás na constituição republicana brasileira.
Até então, a Praça da República era apenas um largo vazio, sem quaisquer traços de urbanização. O primeiro monumento que recebeu foi um coreto de madeira, bem depois, em 1916. A obra foi iniciativa do intendente municipal Jocelyn Gomes Pires, um mineiro radicado em Catalão, que promoveu diversas melhorias na cidade. O coreto, caprichosamente edificado, tinha a forma octogonal e passou a ser usado em leilões, apresentações musicais e comícios políticos.
A Praça da República, a partir de então, passou a ser bastante frequentada por moradores. Foi o que motivou o intendente municipal Augusto Netto Carneiro a promover uma ampla reforma no local em 1929. O intendente ajardinou todo o largo da praça e calçou a área com pedras decorativas. Levantou um robusto coreto de alvenaria, também em forma octogonal, que continua até hoje enfeitando o cenário. Implantou uma fonte de água corrente, embelezou a parte de baixo com balaustrada, distribuiu pequenos postes de iluminação e belas escadarias pelo logradouro.
O calçadão da praça Getúlio Vargas por onde desfilava a mocidade num vai e vem movido a troca de olhares, sorrisos sob a trilha sonora do alto falante do Empório Goiás.Na verdade, Augusto Netto Carneiro acabou construindo uma nova praça e rebatizou-a com o nome de Praça Eugênio Jardim. Também por motivos políticos.
O coronel Eugênio Jardim havia sido o grande vitorioso na revolução de 1909 em Goiás, que conduziu Totó Caiado ao poder estadual. Era um militar carioca muito respeitado, atuante na esfera política goiana, tendo sido reeleito para o senado federal em 1924. Porém, com a sua morte acidental em 1926, atropelado por um automóvel no Rio de Janeiro, o senador ganhou diversas homenagens póstumas em Goiás. Uma delas foi a mudança da antiga Praça da República, em Catalão, que passou a se chamar, a partir de 1929, Praça Eugênio Jardim.
Diga-se de passagem que, os catalanos não se acostumaram inteiramente com o novo nome. Ninguém falava "Praça Eugênio Jardim", mas simplesmente "Praça do Jardim".
E, assim ficou por longo tempo, na memória popular, a "Praça do Jardim" em nossa cidade.
Entretanto, o quadro político mudou radicalmente a partir de 1930. Getúlio Vargas assumiu o comando nacional e nomeou Pedro Ludovico Teixeira como interventor em Goiás, desbancando do poder o grupo do Eugênio Jardim e do velho Totó Caiado.
A praça estava condenada a mudar de nome. Desta feita, as alterações vieram da parte de um ilustre morador da praça, Diógenes Sampaio, que havia sido intendente municipal no começo da década de 1930. Este líder político, que recebeu Pedro Ludovico em sua residência, quando o interventor veio a Catalão, transformou o local em Praça Getúlio Vargas a partir da década de 1940.
O fundamental é que, a praça tornou-se tão importante, em termos de sociabilidade, que ninguém mais ousou trocar o seu nome. Aliás, nem precisava porque continuou sendo chamada, por longo tempo, de "Praça do Jardim".
Durante meio século, a Praça Getúlio Vargas foi o principal centro de lazer em Catalão, tanto para os ricos como para os pobres. Várias gerações usufruiram do ambiente social, dinâmico e festivo, de outrora.
O Cine Teatro Real, o barzinho do coreto, a Panificadora São José, o clube social do CRAC, o Bar e Restaurante Irapuan, o Taco de Ouro, o Bar das Vitaminas e a Churrascaria Kambota marcaram a vida da comunidade catalana. Tudo girava em torno da Praça Getúlio Vargas para onde os frequentadores
afluiam em grupos, envergando suas melhores roupas e perfumes. Até mesmo o Clube 13 de Maio situava-se a apenas dois quarteirões de distância.
Existe um valioso trabalho monográfico, feito pelo historiador Sylvio Netto Lorenzi, a respeito dos anos dourados no espaço da Praça Getúlio Vargas em meados do século passado. O texto, ainda inédito de publicação, traz uma análise sociológica e política muito interessante.
Por outro lado, a Praça Getúlio Vargas, em si, constitui um arquivo memorial da cidade. No seu perímetro estão monumentos históricos, de diversas épocas, Que remetem ao passado glorioso de Catalão. Vale a pena conferir cada detalhe incrustado na velha "Praça do Jardim". (Luís Estevam)
segunda-feira, 23 de novembro de 2020
O SENHOR DOS BLOQUETES
Luís Estevam
(Membro da Academia Catalana de Letras)
Na história da administração municipal de Catalão, alguns prefeitos, contrariando expectativas, causaram surpresa e ficaram na memória popular. Foram vencedores nas adversidades, obtendo êxito, mesmo quando as condições não permitiam uma boa administração. Paulo Hummel foi um deles. A sua gestão tinha tudo para não dar certo: a prefeitura não possuía recursos em caixa, estava endividada, sem crédito na praça e com salários de funcionários atrasados. Além do que, o maquinário era quase inexistente e até mesmo ferramentas para os operários tinham que ser adquiridas. Se fosse em condições normais, tudo poder-se-ia arranjar com o tempo. Mas, Paulo Hummel tinha somente um ano e meio de mandato e a Câmara Municipal, na sua maioria, era contra a sua gestão. Tanto que suas ações e pretensões, na administração, não foram sequer aprovadas pelos vereadores. Apesar dos obstáculos, Paulo Hummel surpreendeu. No princípio teve de lutar contra tudo e contra todos. Mas, apoiado pelo líder político João Netto de Campos, revelou um temperamento obstinado, inovador e ousado, conquistando a população. E, no final de sua breve gestão acabou angariando também o respeito dos seus adversários políticos.
Escola Municipal na zona rural com a marca PH
Escola Municipal na zona rural com a marca PH
sexta-feira, 20 de novembro de 2020
NOSSA TERRA, NOSSA HISTÓRIA!
BENFEITORA DE CATALÃO
Luís Estevam
(Da Academia Catalana de Letras)
A catalana Sarah Abrahão, como funcionária pública, ocupou a direção da Mesa do Senado Federal em diversas ocasiões. Como se trata de um dos cargos mais importantes do Congresso Nacional, a servidora manteve estreita relação com senadores e diversos presidentes da República ao longo de mais de meio século. Na verdade, desde 1960, quando foi aprovada em concurso público assumindo o cargo no Rio de Janeiro, até 2016 quando, depois de aposentada, lançou suas "Memórias do Senado" em Brasília.
Durante todo esse tempo, Catalão se beneficiou do prestígio de sua filha, que intermediou verbas federais e diversos benefícios para o município.
Além do mais, Sarah Abrahão foi mantenedora do colégio Abrahão André (que leva o nome do seu pai) desde a fundação da escola na década de 1970. Por sinal, o colégio, situado no bairro do Pio, continua sendo um dos mais bem equipados da região e figura entre os primeiros em qualidade de ensino no cenário estadual.
A família Abrahão tem uma história interessante. O patriarca, Abrahão Andraus (André), chegou a Catalão juntamente com dois irmãos, exercendo a atividade de mascate. Na primeira década do século passado conseguiu abrir uma loja de secos e molhados na cidade, retornando à Síria somente para se casar de acordo com as regras do seu país.
Diziam alguns imigrantes estrangeiros que, Catalão era o melhor lugar do interior para se estabelecer e fazer fortuna.
O que não ocorreu no caso de Abrahão André. A profissão de comerciante não combinava com o seu temperamento e excesso de generosidade. O imigrante apiedava-se dos clientes em dificuldades financeiras e não lhes cobravam dívidas. Se cobrava, muitas vezes não recebia, porque também havia gente desonesta no município e Abrahão acabava deixando pra lá, de acordo com familiares.
Tanto que, algumas vezes, a pobreza rondou a vida da família que teve sete filhos: Mariana, Jorge, Chafi, Chafia (Sonia), Geni, Sarah e Norma. Alguns deles se destacaram. Mariana foi notável enfermeira do exército no Rio de Janeiro, Jorge foi um pedreiro bastante popular em Catalão (inclusive, um dos idealizadores e fundadores do Clube 13 de Maio) e Sarah tornou-se advogada servidora do Senado Federal.
Ressalte-se que, Sarah Abrahão foi a primeira mulher a ocupar o cargo de Secretário Geral da Mesa do Senado e uma das primeiras funcionárias efetivas do Congresso Nacional em Brasília. Organizou a transferência e a instalação do parlamento em Brasília-DF, quando não existiam nem mesmo os gabinetes individuais para senadores e deputados federais.
Sarah ocupou a direção da Casa de 1973 a 1980. Entretanto, no todo, participou durante mais de cinco décadas das reuniões e decisões do Congresso Nacional. Mesmo depois de se aposentar, trabalhou como voluntária e comissionada na Secretaria Geral, ficando conhecida como a "papiza do regimento", por seu conhecimento profundo do Regimento Interno do Senado e Congresso Nacional.
Quando presidia o Senado, em 2010, José Sarney condecorou Sarah Abrahão pelos 50 anos dedicados ao serviço público. Sarney lembrou que, até a caneta que assinou como presidente da República em 1985, em substituição ao presidente eleito Tancredo Neves, pertencia a Sarah Abrahão que organizou e dirigiu todo o andamento da cerimônia de posse.
De fato, a catalana Sarah Abrahão angariou muito prestígio na esfera federal. Valendo-se disso, vários políticos da região buscaram o apoio da funcionária para orientação e contatos com autoridades federais.
Para citar um exemplo, o prefeito Silvio Paschoal acalentava o sonho de iniciar uma canalização do córrego Pirapitinga na área central de Catalão. Mas, não haviam verbas e tampouco representação federal para obter os recursos necessários.
Silvio dirigiu-se a Brasília e solicitou o empenho de Sarah Abrahão que conseguiu audiência ministerial para o prefeito. Com grande esforço de convencimento e empenho pessoal, ambos angariaram verbas suficientes para canalização do primeiro quilômetro do córrego. Foi a obra pioneira de canalização em Catalão que abriu a avenida Raulina Fonseca Paschoal.
Pouco tempo depois, através de Nilo Margon e do general Golbery do Couto e Silva, o deputado Ênio Pascoal conseguiu recursos para acréscimo de mais meio quilômetro de canalização. Outros prefeitos somaram esforços e a canalização do Pirapitinga continua até hoje.
Enfim, vários benefícios foram conseguidos para Catalão por intermédio da servidora Sarah Abrahão que, em 2016, lançou a sua biografia no Senado, na presença de diversas autoridades federais.
O seu extenso e rico currículo representa um orgulho para Catalão. (Luís Estevam)