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sexta-feira, 20 de novembro de 2020

NOSSA TERRA, NOSSA HISTÓRIA!

(
Luis Estevam
fala sobre os tempos da cadeia pública de Catalão, de seus presos e de seus delegados)
A Academia Catalana de Letras recorda que a cadeia pública de Catalão foi palco de marcantes ocorrências, ao longo de sua história. O velho prédio, construído em 1844, quando Catalão era ainda uma pequena vila, conservou os traços originais, apesar das inúmeras reformas que recebeu.
O minúsculo arraial do Catalão, até a década de 1830, não tinha aparato judicial próprio e tampouco cadeia pública. Porém, ao ser elevado à condição de vila, em 1833, surgiram reivindicações para construção da Câmara Municipal e de um cárcere para a imposição da ordem pública. O apelo foi atendido pelo governo provincial e, em 1844, foi levantado um grande sobrado para abrigo do legislativo e do judiciário municipais.
O térreo da construção foi destinado à cadeia pública e o único acesso era um alçapão interno com uma escada sempre retirada, quando não utilizada. No projeto original, a enxovia masculina tinha capacidade para 12 detentos, além de um pequeno salão reservado para meia dúzia de mulheres.
O local era bastante insalubre e contava apenas com uma janela para ventilação, protegida com grades de ferro. Como as paredes eram de adobe, várias fugas de presos ocorreram, naqueles primórdios.
O escritor Bernardo Guimarães, quando nomeado juiz de direito em Catalão, em 1862, encontrou 14 presos na cadeia pública. Abriu um processo e os libertou imediatamente, alegando insalubridade e maus tratos. Com essa decisão ganhou a antipatia do próprio judiciário e do presidente da província, o que gerou um longo processo.
A primeira reforma no prédio aconteceu em 1874, reivindicada pelo então delegado de polícia, Cel João de Cerqueira Netto. O coronel, que já havia sido intendente da cidade, substituiu paredes de adobe e revitalizou o prédio. Entretanto, a estrutura original e a enxovia foram conservadas.
Ao longo da história, várias ocorrências tiveram a cadeia pública como referência. O senador Paranhos, no final de 1897, havia comparecido a um júri popular no prédio, pouco antes de ser assassinado. O capitão Carlos de Andrade, acusado de mandante, ali ficou preso por quase um mês, sendo diariamente torturado naquele cárcere. Inclusive, foi morto no local, quando tentava fugir, no começo de 1898, juntamente com outro detento.
A lista de ocorrências é longa e triste. Da cadeia pública de Catalão, em 1916, saiu um contingente de soldados, chefiado pelo delegado Isaac da Cunha, que tocaiou e matou nove operários da estrada de ferro, além de duas crianças, no episódio conhecido como Massacre dos Turmeiros.
Ali na enxovia, também foi injustamente torturado um filho de Albino Felipe, em 1936, acusado da morte do pai. Na ocasião, foram presos o jagunço Chico Prateado e o farmacêutico Antero da Costa Carvalho, acusados pelo mesmo crime. O jagunço teve a fuga facilitada, mas Antero foi executado publicamente, em ocorrência bastante conhecida pela comunidade.
Ainda, de certa feita, os irmãos Delcides e Durval Sampaio foram à cadeia pública retirar um empregado da fazenda, preso injustamente. Na discussão, um parente do delegado disparou um tiro certeiro em Delcides. O irmão Durval, resoluto, abateu a tiros o delegado José Ayres, no interior da cadeia municipal. O empregado da fazenda que havia sido detido, foi executado, em represália, por um soldado.
Com o passar dos anos, a velha cadeia foi sendo repartida e reconstruída, mas continuou na mesma quadra do terreno. E, sempre com a mesma feição: delegacia em cima e cárcere no térreo.
Na época da II Guerra Mundial, os estrangeiros residentes em Catalão foram obrigados a se apresentar na cadeia pública, assinando um livro de frequência aberto para tal finalidade. A norma era rigidamente cumprida pelos imigrantes, com receio da deportação.
Também durante o período da ditadura militar, deflagrada em 1964, várias pessoas de Catalão foram detidas e ficaram encarceradas na cadeia pública.
Entre os presos esteve o professor João Margon Vaz, irmão mais novo do ex-prefeito Haley Margon Vaz. A mãe deles, Dona Matilde Margon, desde essa época, passou a levar espontaneamente comida para os presos, tornando-se pessoa muito querida e respeitada pela população carcerária de Catalão. Inclusive, quando Dona Matilde faleceu, houve até motim na cadeia municipal, com os presos exigindo participar do velório da saudosa protetora.
Desse modo, muitos episódios interessantes rondam a memória de Catalão, a partir da cadeia municipal.
Hoje, a Delegacia Civil continua no mesmo local de antigamente. Mas, Catalão passou a contar com um presídio específico, bem na saída norte da cidade. (Luís Estevam)



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