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segunda-feira, 23 de novembro de 2020


O SENHOR DOS BLOQUETES 

Luís Estevam 

(Membro da Academia Catalana de Letras)


Na história da administração municipal de Catalão, alguns prefeitos, contrariando expectativas, causaram surpresa e ficaram na memória popular. Foram vencedores nas adversidades, obtendo êxito, mesmo quando as condições não permitiam uma boa administração. Paulo Hummel foi um deles. A sua gestão tinha tudo para não dar certo: a prefeitura não possuía recursos em caixa, estava endividada, sem crédito na praça e com salários de funcionários atrasados. Além do que, o maquinário era quase inexistente e até mesmo ferramentas para os operários tinham que ser adquiridas. Se fosse em condições normais, tudo poder-se-ia arranjar com o tempo. Mas, Paulo Hummel tinha somente um ano e meio de mandato e a Câmara Municipal, na sua maioria, era contra a sua gestão. Tanto que suas ações e pretensões, na administração, não foram sequer aprovadas pelos vereadores. Apesar dos obstáculos, Paulo Hummel surpreendeu.  No princípio teve de lutar contra tudo e contra todos. Mas, apoiado pelo líder político João Netto de Campos, revelou um temperamento obstinado, inovador e ousado, conquistando a população. E, no final de sua breve gestão acabou angariando também o respeito dos seus  adversários políticos. 

Escola Municipal na zona rural com a marca PH


Escola Municipal na zona rural com a marca PH


Fábrica de Bloquetes na rua Dr. William Faiad

Uma ponte sendo construída

Vias públicas sendo preparadas para receberem os bloquetes

Tudo se deu exatamente na metade da década de 1960. Na época, o quadro administrativo e político de Catalão estava caótico. O prefeito Osark Vieira Leite, embora reconhecidamente um homem simples e honesto, fora definitivamente afastado de suas funções.  A Câmara de Vereadores acatou denúncia  de irregularidades e desvios financeiros cometidos pelos auxiliares de Osark Leite e votaram pelo seu impedimento. 
Faltava pouco mais de um ano para o fim do mandato do prefeito cassado, quando o vice-prefeito Paulo Hummel assumiu o poder municipal. O quadro era desolador, conforme mencionado. Para agravar mais a situação, o golpe militar de 1964 complicou os trâmites políticos e o novo prefeito não tinha a quem recorrer também em níveis nacional e estadual.
Ainda assim, Paulo Hummel não titubeou. Ignorou as condições adversas, não desanimou face ao curtíssimo tempo que tinha de mandato e nem se assustou com a falta de recursos financeiros. Agiu de forma inusitada: tornou-se avalista pessoal das compras da prefeitura, assumiu contratos, assinou acordos para regularização de salários atrasados e rolagem de dívidas municipais. 
As despesas que o novo prefeito assumiu foram bastante pesadas. Chegaram a comprometer o patrimônio pessoal que ele acumulara em função da herança paterna.
Interessante que, Paulo Hummel resolveu fazer uma administração enfrentando de cara os problemas mais onerosos e difíceis de infraestrutura: rede de esgoto e pavimentação. Até então, o trabalho rotineiro da prefeitura de Catalão se resumia ao encascalhamento das ruas, colocação de meio-fios e abertura de esgoto pluvial. 
A Praça da Velha Matriz sendo urbanizada


MAis uma escola sendo inaugurada


O entorno da Praça Getúlio Vargas recebendo os bloquetes. Ao fundo, a igreja Cristã Evangélica.


Valendo-se de antigas amizades, Paulo Hummel conseguiu aprovação de um projeto de esgoto pela Saneago e adquiriu o material necessário no Rio de Janeiro por intermediação do ex-prefeito Jacy Netto. Contando com a boa vontade de caminhoneiros catalanos, que trouxeram, aos poucos, o material do Rio de Janeiro, o prefeito começou a rede pioneira de esgoto residencial em Catalão, inteiramente com recursos municipais. 
Em seguida veio a pavimentação de concreto. O prefeito destacou uma equipe de funcionários e a enviou para estágio numa indústria de bloquetes em Belo Horizonte. Em Catalão montou uma fábrica de artefatos de cimento bem ao lado de sua residência, no centro da cidade, aproveitando a água de sua própria casa. Milhares de peças foram confeccionadas e distribuídas pelas vias urbanas. Logo que se completava o serviço de esgoto, o leito da rua era tapado com bloquetes.
A paisagem urbana de Catalão foi se alterando com a pavimentação e os moradores aprovaram a novidade. Entusiasmado, no aniversário da cidade em 1964, Paulo Hummel prometeu ao público que, no ano seguinte, o desfile cívico seria todo realizado em vias pavimentadas. Para cumprir a promessa teve que produzir bloquetes em escala monumental e concentrar-se apenas nas ruas centrais. Na avenida José Marcelino, por exemplo, o prefeito teve que utilizar paralelepípedos para início do calçamento por falta de bloquetes. 
Paulo Hummel ficou logo conhecido pela população. Principalmente pelas iniciais de seu nome em bloquetes nas ruas. Aconteceu que ele tinha uma marca de gado, com as suas iniciais, que ficava encostada na fábrica de artefatos. Um dos funcionários da prefeitura, por acaso e de brincadeira, marcou a face de alguns bloquetes  com o ferro. Obteve a aprovação dos companheiros e posteriormente do prefeito. Desse modo, as vias urbanas de Catalão ficaram marcadas com as iniciais de Paulo Hummel. Os bloquetes apagaram as marcas do atraso de Catalão. Nem tudo, entretanto, eram flores. Houve tentativa de desmoralização do trabalho de calçamento com danificação de vias pavimentadas exigindo intervenção policial e destacamento de vigias. 
Mas, teimoso. Paulo Hummel prosseguiu na operação, marcando sua passagem pela prefeitura de forma criativa, útil e duradoura. 
No curto período de sua gestão, ainda construiu várias praças, mais de uma dezena de escolas, eliminou o esbarrancado da Santa Casa, iniciou a avenida João XXIII e abriu a ligação do Crac com o bairro do Pio, entre outras realizações. 
Paulo Hummel faleceu em janeiro passado aos 93 anos de idade. Aqui se abordou somente um ano de sua administração.  O restante de sua vida está no interessante livro "O Eco do Passado" de sua própria autoria. Vale a pena conferir. 
(Luís Estevam)

A fábrica de bloquetes na rua Dr. william Faiad esquina com a rua estreita

Outra vista do entorno da Praça Getúlio Vargas sendo pavimentado
Ruas sendo preparadas para receberem os bloquetes

A rua Dr. William Faiad recebendo os bloquetes

Escola municipal do bairro Pio Gomes 

A Praça Getúlio Vargas já com os bloquetes. ao fundo as instalações do atual Banco Itaú que à época sediava uma concessionária Volkswagen, a DISCAUTO.
Av. Brasil, hoje Farid Miguel Safatle sendo preparada para a pavimentação

A conhecida Rua Estreita no trecho da Praça Getúlio Vargas temdo ao fundo a casa de Dr. Lamartine P. Avelar






sexta-feira, 20 de novembro de 2020

NOSSA TERRA, NOSSA HISTÓRIA!

(
Luis Estevam
fala sobre os tempos da cadeia pública de Catalão, de seus presos e de seus delegados)
A Academia Catalana de Letras recorda que a cadeia pública de Catalão foi palco de marcantes ocorrências, ao longo de sua história. O velho prédio, construído em 1844, quando Catalão era ainda uma pequena vila, conservou os traços originais, apesar das inúmeras reformas que recebeu.
O minúsculo arraial do Catalão, até a década de 1830, não tinha aparato judicial próprio e tampouco cadeia pública. Porém, ao ser elevado à condição de vila, em 1833, surgiram reivindicações para construção da Câmara Municipal e de um cárcere para a imposição da ordem pública. O apelo foi atendido pelo governo provincial e, em 1844, foi levantado um grande sobrado para abrigo do legislativo e do judiciário municipais.
O térreo da construção foi destinado à cadeia pública e o único acesso era um alçapão interno com uma escada sempre retirada, quando não utilizada. No projeto original, a enxovia masculina tinha capacidade para 12 detentos, além de um pequeno salão reservado para meia dúzia de mulheres.
O local era bastante insalubre e contava apenas com uma janela para ventilação, protegida com grades de ferro. Como as paredes eram de adobe, várias fugas de presos ocorreram, naqueles primórdios.
O escritor Bernardo Guimarães, quando nomeado juiz de direito em Catalão, em 1862, encontrou 14 presos na cadeia pública. Abriu um processo e os libertou imediatamente, alegando insalubridade e maus tratos. Com essa decisão ganhou a antipatia do próprio judiciário e do presidente da província, o que gerou um longo processo.
A primeira reforma no prédio aconteceu em 1874, reivindicada pelo então delegado de polícia, Cel João de Cerqueira Netto. O coronel, que já havia sido intendente da cidade, substituiu paredes de adobe e revitalizou o prédio. Entretanto, a estrutura original e a enxovia foram conservadas.
Ao longo da história, várias ocorrências tiveram a cadeia pública como referência. O senador Paranhos, no final de 1897, havia comparecido a um júri popular no prédio, pouco antes de ser assassinado. O capitão Carlos de Andrade, acusado de mandante, ali ficou preso por quase um mês, sendo diariamente torturado naquele cárcere. Inclusive, foi morto no local, quando tentava fugir, no começo de 1898, juntamente com outro detento.
A lista de ocorrências é longa e triste. Da cadeia pública de Catalão, em 1916, saiu um contingente de soldados, chefiado pelo delegado Isaac da Cunha, que tocaiou e matou nove operários da estrada de ferro, além de duas crianças, no episódio conhecido como Massacre dos Turmeiros.
Ali na enxovia, também foi injustamente torturado um filho de Albino Felipe, em 1936, acusado da morte do pai. Na ocasião, foram presos o jagunço Chico Prateado e o farmacêutico Antero da Costa Carvalho, acusados pelo mesmo crime. O jagunço teve a fuga facilitada, mas Antero foi executado publicamente, em ocorrência bastante conhecida pela comunidade.
Ainda, de certa feita, os irmãos Delcides e Durval Sampaio foram à cadeia pública retirar um empregado da fazenda, preso injustamente. Na discussão, um parente do delegado disparou um tiro certeiro em Delcides. O irmão Durval, resoluto, abateu a tiros o delegado José Ayres, no interior da cadeia municipal. O empregado da fazenda que havia sido detido, foi executado, em represália, por um soldado.
Com o passar dos anos, a velha cadeia foi sendo repartida e reconstruída, mas continuou na mesma quadra do terreno. E, sempre com a mesma feição: delegacia em cima e cárcere no térreo.
Na época da II Guerra Mundial, os estrangeiros residentes em Catalão foram obrigados a se apresentar na cadeia pública, assinando um livro de frequência aberto para tal finalidade. A norma era rigidamente cumprida pelos imigrantes, com receio da deportação.
Também durante o período da ditadura militar, deflagrada em 1964, várias pessoas de Catalão foram detidas e ficaram encarceradas na cadeia pública.
Entre os presos esteve o professor João Margon Vaz, irmão mais novo do ex-prefeito Haley Margon Vaz. A mãe deles, Dona Matilde Margon, desde essa época, passou a levar espontaneamente comida para os presos, tornando-se pessoa muito querida e respeitada pela população carcerária de Catalão. Inclusive, quando Dona Matilde faleceu, houve até motim na cadeia municipal, com os presos exigindo participar do velório da saudosa protetora.
Desse modo, muitos episódios interessantes rondam a memória de Catalão, a partir da cadeia municipal.
Hoje, a Delegacia Civil continua no mesmo local de antigamente. Mas, Catalão passou a contar com um presídio específico, bem na saída norte da cidade. (Luís Estevam)



BENFEITORA DE CATALÃO 

Luís Estevam 

(Da Academia Catalana de Letras)





A catalana Sarah Abrahão, como funcionária pública, ocupou a direção da Mesa do Senado Federal em diversas ocasiões. Como se trata de um dos cargos mais importantes do Congresso Nacional, a servidora manteve estreita relação com senadores e diversos presidentes da República ao longo de mais de meio século. Na verdade, desde 1960, quando foi aprovada em concurso público assumindo o cargo no Rio de Janeiro, até 2016 quando, depois de aposentada, lançou suas "Memórias do Senado" em Brasília. 

Durante todo esse tempo, Catalão se beneficiou do prestígio de sua filha, que intermediou verbas federais e diversos benefícios para o município. 

Além do mais, Sarah Abrahão foi mantenedora do colégio Abrahão André (que leva o nome do seu pai) desde a fundação da escola na década de 1970. Por sinal, o colégio, situado no bairro do Pio, continua sendo um dos mais bem equipados da região e figura entre os primeiros em qualidade de ensino no cenário estadual. 

A família Abrahão tem uma história interessante. O patriarca, Abrahão Andraus (André), chegou a Catalão juntamente com dois irmãos, exercendo a atividade de mascate. Na primeira década do século passado conseguiu abrir uma loja de secos e molhados na cidade, retornando à Síria somente para se casar de acordo com as regras do seu país. 

Diziam alguns imigrantes estrangeiros que, Catalão era o melhor lugar do interior para se estabelecer e fazer fortuna. 

O que não ocorreu no caso de Abrahão André. A profissão de comerciante não combinava com o seu temperamento e excesso de generosidade. O imigrante apiedava-se dos clientes em dificuldades financeiras e não lhes cobravam dívidas. Se cobrava, muitas vezes não recebia, porque também havia gente desonesta no município e Abrahão acabava deixando pra lá, de acordo com familiares.

Tanto que, algumas vezes, a pobreza rondou a vida da família que teve sete filhos: Mariana, Jorge, Chafi, Chafia  (Sonia), Geni, Sarah e Norma. Alguns deles se destacaram. Mariana foi notável enfermeira do exército no Rio de Janeiro, Jorge foi um pedreiro bastante popular em Catalão (inclusive, um dos idealizadores e fundadores do Clube 13 de Maio) e Sarah tornou-se advogada  servidora do Senado Federal.  

Ressalte-se que, Sarah Abrahão foi a primeira mulher a ocupar o cargo de Secretário Geral da Mesa do Senado e uma das primeiras funcionárias efetivas do Congresso Nacional em Brasília. Organizou a transferência e a instalação do parlamento em Brasília-DF, quando não existiam nem mesmo os gabinetes individuais para senadores e deputados federais. 

Sarah ocupou a direção da Casa de 1973 a 1980. Entretanto, no todo, participou durante mais de cinco décadas das reuniões e decisões do Congresso Nacional. Mesmo depois de se aposentar, trabalhou como voluntária e comissionada na Secretaria Geral, ficando conhecida como a "papiza do regimento", por seu conhecimento profundo do Regimento Interno do Senado e Congresso Nacional. 

Quando presidia o Senado, em 2010, José Sarney condecorou Sarah Abrahão pelos 50 anos dedicados ao serviço público. Sarney lembrou que, até a caneta que assinou como presidente da República em 1985, em substituição ao presidente eleito Tancredo Neves, pertencia a Sarah Abrahão que organizou e dirigiu todo o andamento  da cerimônia de posse. 

De fato, a catalana Sarah Abrahão angariou muito prestígio na esfera federal. Valendo-se disso, vários políticos da região buscaram o apoio da funcionária para orientação e contatos com autoridades federais. 

Para citar um exemplo, o prefeito Silvio Paschoal acalentava o sonho de iniciar uma canalização do córrego Pirapitinga na área central de Catalão. Mas, não haviam verbas e tampouco representação federal para obter os recursos necessários.

Silvio dirigiu-se a Brasília e solicitou o empenho de Sarah Abrahão que conseguiu audiência ministerial para o prefeito. Com grande esforço de convencimento e empenho pessoal, ambos angariaram verbas suficientes para canalização do primeiro quilômetro do córrego. Foi a obra pioneira de canalização  em Catalão que abriu a avenida Raulina Fonseca Paschoal. 

Pouco tempo depois, através de Nilo Margon e do general Golbery do Couto e Silva, o deputado Ênio Pascoal conseguiu recursos para acréscimo de mais meio quilômetro de canalização. Outros prefeitos somaram esforços e a canalização do Pirapitinga continua até hoje. 

Enfim, vários benefícios foram conseguidos para Catalão por intermédio da servidora Sarah Abrahão que, em 2016, lançou a sua biografia no Senado, na presença de diversas autoridades federais.

O seu extenso e rico currículo representa um orgulho para Catalão. (Luís Estevam)

A sempre fotogênica Praça Getúlio Vargas e sua onipresente árvore que não se dobra à ação do tempo e de pragas as quais, por algumas vezes, obrigaram a poda quase que completa.


Outra tomada da praça, então denominada Jardim Público, na década de 1950.

Este casarão é icônico na história de Catalão. Destes janelões saíram os tiros que, em 30 de novembro de 1897, mataram o Cel. Antônio da Silva Paranhos, ex- senador da República. Neste casarão morava Carlos Antônio de Andrade, inimigo declarado do senador. em tempos mais recentes, nesta casa morou Sr, Wilson Barbosa, genro de Pio Gomes e pessoa de destaque na educação de Catalão.


Na fotografia estão, entre outros, Bomba, Constantino Tartuci, Tonim Pires, João Moreira. Detalhe: Bomba calçando um autêntico Ki-Chute. 

O Casal Sr. Hermógenes e Sra. Rosentina de Sant'anna e Silva, a Dona Yayá que empresta seu nome a uma das mais tradicionais escolas públicas de Catalão, no Bairro São João.
 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Primeira turma de formandos da Escola Agrícola com a presença do então Deputado Ronaldo Caiado, escolhido para ser o paraninfo da turma

O então prefeito Haley Margon posando ao lado de proprietários rurais da região de Santo Antônio do Rio Verde, entre eles, Sr. Anacleto Zanella, um dos sojicultores pioneiros a se instalar no município

O prefeito Haley Margon (ao centro) com moradores de Santo Antônio do Rio Verde

Guilhermano, Sampaio, Egerúsio e Antônio de Deus, então funcionários da Goiasfértil. Com exceção de Sampaio, os demais atuavam na mina da empresa.
 

                         Projeto do prefeito Haley Margon, a Escola Agrícola, situada
no DiMIC
 

Tomada da Av. 20 de agosto mostrando a agência do Banco Regional de Brasília - BRB. Os conhecidos bloquetes ainda assentados e chama a atenção o já ausente obelisco no centro da avenida;