As páginas da história de Catalão são freqüentadas por personagens cuja existência foi marcada, entre outras coisas, pela controvérsia.
Caetana Eulália Mendes, a Caetaninha de Sto. Antônio do Rio Verde foi uma daquelas personagens. Nos textos que versam sobre Caetaninha, fica claro que violência e sedução foram marcas registradas na vida dela. Há, entretanto, muita controvérsia. Todavia, num ponto verifica-se uma concordância geral: a maneira como ela morreu. Após intenso tiroteio com uma guarnição da polícia, enviada desde a capital, Vila Boa - Goiás Velho, especialmente com o propósito de por fim às mazelas e crimes cometidos por Caetaninha e seu grupo, todos eles foram mortos. A exceção ficou por conta do filho Francisco, o Chico da Caetana, que estava viajando e de Osório, neto de Caetaninha e que fora poupado graças a intervenção de Davi Co-Có e de um soldado. Caetaninha viveu entre meados e fim do século XIX.
Se Eulália Caetano Mendes foi ou fez o que dizem que foi e fez, é algo que permanecerá no âmbito da controvérsia. Todavia, em sua monografia de conclusão do curso de História, da UFG-Campus Catalão, Dália Mendes Borges Martins, neta de Caetaninha, filha do Chico da Caetana, colheu depoimentos de antigos moradores de Sto. Antônio do Rio Verde. Abaixo, a transcrição de alguns desses depoimentos. Foi preservada a grafia original.
Ela era uma muié muito sistemática e vivia tamém muito granfa. Ela era uma muié que pela aquela época vivia quase cumo uma rainha, vivia impencada de oro e tudo mais. Intão ele era muito rica. Ela era dona daquelas casa quase toda da currutela lá de Rio Verde. Intão ela tinha treis fii e os treis morava cuela era tudo reunido e unido.(Depoimento de Realino de Freitas Guimarães – 64 anos – morador de Sto. Antônio do Rio Verde – 19/02/1997)
Se um home passasse naporta dela de cabecinha baxa e ela gostasse dele e ele passasse de cabeça baxa e não falasse cuela, aí ela mandava os fii dela matá... Se passasse e lhe falasse: ô Caetaninha, ocê é muito bunita! Num seio quê... mandava matá tamém, qui disrespeitô ela. (Depoimento de Eurico Mathias Silvério – Bió Mathias – 72 anos, morador de Sto. Antônio do Rio Verde – 28/05/1998)
Eu vi falá qui tinha um rapais qui tinha um cavalo bão e desceu pra rua abaxo e passo na porta ela e ela falo: “qui cavalo bunitu”. E ele respondeu qui o cavalo tava as orde dela. Aí ela mando ceicá ele lá imbaxo e mandô matá ele. Mato o rapais. (Depoimento de Ilídio Souza Machado, 79 anos, morador de Sto. Antônio do Rio Verde – 15/11/1997).
Inclusive ela assassinou um tio do meu pai, que chamava Jerônimo Cândido de Oliveira. Parece que ela tinha uma simpatia por ele. Ele era um moço muito simpático, naquela ocasião em que o povo era tudo humilde e ele andava muito bem trajado. Então esse tio do meu pai era de Ipameri e um dia ela buliu com ele. Ele tava pasando na rua num cavalo muito bonito, bom e marchador. Aí ela falou: “ô moço eu quero conversá com você! Eu quero comprá seu cavalo”! Mas ele pressentiu que ela queria conquistar ele. Aí ele falou que não queria negócio com ela; aí ele andou mais ou menos uns quinhentos metros; aí numa ponte dois caseiros dela atirou nele, no peito, deu três tiros e lê morreu na hora.
(Depoimento de Maria Pereira de Amorim, 55 anos, escrivã do Cartório de Registro civil de Sto. Antônio do Rio Verde – 29/06/1998).
Já vi as pessoa contá que ela mandava nessa zona aqui tudo e ela fazia coisa impussive. Se ela precisasse de um capado, de mantimento, quaisqué coisa, ela iscrivia um biete pra um fazendeiro e ele vinha e tinha de levá pra ela e rápido. Se num levasse aquela pessoa disaparicia. Tamém boiadeiro qi vinha comprá gado disaparicia. (Depoimento de José Cândido Martins – Zé Gregório – 69 anos, morador de Sto. Antônio do Rio Verde – 29/07/1998).
Diz que por qualquer coisinha ela mandava matar. Ele conta causo de gente que vinha de fora,parava e instalava na pensão dela; aí qualquer coisinha que ele fizesse, uma gracinha, algum desaforo pra ela, ela mandava os filhos matar. (Depoimento de Mário de Castro, 78 anos, oficial de justiça aposentado e ex-morador de Sto. Antônio do Rio Verde – 01/06/1998).
Sei qui depois veio uma Capitura lá, vinda da de Goiás Velha e matou toda a família. Só ficou o velho Chico e o Osório, porque ele estava viajando e o Osório era uma criança com menos idade. (Depoimento de Santilha Pereira Canedo, 69 anos, moradora de Sto. Antônio do Rio Verde – 9/9/1996).
Cornélio Ramos em seu História e Confissões transcreveu assim um diálogo que teria havido entre o Delegado de Polícia de Catalão e um jagunço.
O jagunço entrega um embrulho todo manchado de sangue para o delegado:
- O que é isso Procópio?
- É as farda dos sordado que vosmicê mandô pra prender a sinhazinha... Eles ficaro interrado sem ropa lá mesmo no arraiá!
Cornélio Ramos relata, ainda, que foram descobertos vários esqueletos humanos enterrados sob o chão do casarão de Caetaninha, juntamente com grande quantidade de armas as quais teriam pertencido aos mortos ou enviadas como presente por aqueles a quem ela seduzira e com quem mantinha romance. Em seu livro Cornélio Ramos refere-se a Caetaninha como sendo Ernestina. De acordo com sua neta Dália, o nome de batismo de Caetaninha é Caetana Eulália Mendes.
As fotos acima são dos sobreviventes ao cerco onde Caetaninha e seu grupo foram mortos. O primeiro é Francisco, o Chico da Caetana que só não foi morto porque estava viajando. O segundo é Osório, neto de Caetaninha que à época contava apenas 2 anos de idade e foi poupado.
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